Com
certeza foram muitos os que viajaram pela Europa pedindo carona, porém
tenho a ligeira impressão de que em 1998 a coisa toda foi diferente.
É muito comum essa história de pedir carona por lá
mas não estamos mais nos anos 60 e 70 onde era muito fácil
alguém confiar em você e deixar que entrasse em seu carro,
nos anos 90 as pessoas mudaram, não sei se pelo ritmo natural
das coisas e o medo que cresce não só aqui no Brasil.
Tudo o que sei é que não foi fácil. Teria sido
se tivesse uma bike talvez...mas de carona?? Não é mole.
A
dificuldade aumenta o prazer depois de uma longa espera, uma carona
de kilômetros, mas enquanto se espera é de doer, principalmente
quando chove ou se está em um lugar horrível com fome
e sede, ter que caminhar muito no acostamento, com sol escaldante e
a mochila pesada, vendo os carros e caminhões passando e te jogando
um monte d´água em dias de chuva.
Talves
esta tenha sido uma das viagens mais econômicas pela Europa pois
praticamente só gastava com alimentação.
Todos os que viajam andam de trens, ônibus, dormem em hotéis
e albergues, eu tinha uma carteirinha de albergues que nunca usei, o
preço era alto para mim e até hotéis normais podiam
ser encontrados por preços menores. Utilizei transportes somente
quando sabia que gastaria mais em comida pegando carona em lugares difíceis
do que se comprasse uma passagem e chegasse no próximo lugar.
No sul da França por exemplo gastei menos com a passagem de trem
que me levou a Espanha do que se tivesse feito de carona, o que levaria
uma semana se eu estivesse com sorte. Lá niguém dá
carona como em quase todo o Sul da Espanha. Utilizava ônibus de
linha e metrô para me locomover nas grandes cidades porque esse
tipo de passagem é relativamente barata. Aconteceu em Genova
que me fiz de louco e entrei num ônibus, quando o fiscal veio
pedir as passagens que deveriam ter sido compradas antes do embarque
eu disse que não sabia e ele queria me multar, eu dizia que não
tinha dinheiro e não tinha mesmo, até que uma senhora
se prontificou a pagar a pasagem.
Procurei utilizar o menos possível os transportes pagos, somente
quando a coisa ficava sem ter outra saída. Aliás detestava
andar de trens ou ônibus, andar de carona é muito melhor
devido ao contato direto com as pessoas da região que sempre
tinham algo interessante para contar além de eu poder treinar
meu inglês ou espanhol e muitas veses ser convidado para comer.
O
negócio era acampar! ficar no mato, na floresta, na beira do
mar e em qualquer lugar de beira de estrada que encontrasse. Dormi nos
mais diversos lugares, pulei cercas de fazendas, lugares proibidos,
jardins de casas, na beirada dos Cliffs of Moher, lugares onde ninguém
jamais pensaria em passar a noite eu passei, foram 110 dias de acampamentos
diários, monta e desmonta barraca, preparar e comprar rango cozinhado
no meu fogareiro.
Banho?
Acho que fiquei uma vez, 7 dias sem banho na Irlanda e outra semana
com de banho mar na Espanha. Mas sempre há uma chuveiro por perto
nem que você tenha que pagar pelo mesmo. Na maioria das vezes
tomava banho de chuveiro nas praias ou no mar mesmo.
Fiquei
privado de muitas coisas, perdi de conhecer diversos lugares por falta
de dinheiro como nas Ruínas de Pompéia onde com pouco
dinheiro no bolso e não conseguindo retirar dinheiro nos caixas
eletrônicos, tive de desistir na porta, realmente muito triste.
Apesar
de todos os problemas, sempre aconteciam coisas interessantes e inusitadas,
a liberdade que experimentei de andar sem rumo, sempre com a expectativa
do desconhecido, o contato com as pessoas e os belíssimos visuais
das estradas foram sem dúvida a experiência mais significativa
da minha vida.